
1 – Lar de Idosos. Assistimos a um envelhecimento acelerado da nossa população. As nossas comunidades, sobretudo as que se situam no interior do país, veem os seus poucos jovens a deslocarem-se para zonas que apresentam uma maior diversidade de serviços e de trabalho, tornando as nossas aldeias silenciosas, isentas de crianças e, cada vez mais, distantes dos interesses políticos e económicos. O resultado são comunidades onde a população idosa ou muito idosa são a única presença de vitalidade. A par da mobilidade do interior para o litoral acresce o medo, que os nossos jovens têm, de assumir compromissos familiares e de terem filhos. Há́ uma cultura, quiçá́ associada à igualdade de género, que defende uma vida a dois generalizada, isenta de filhos e responsabilidade social, como expressão da autêntica liberdade.
Este contexto traz necessariamente a questão. O que fazer a tantos idosos a viver durante mais tempo, com patologias graves e dependentes de outros? As sociedades modernas e com preocupação social foram edificando os lares de idosos, instituições para acolher os idosos. Aquilo que pretendia ser uma resposta social para situações específicas, tornou-se a resposta geral e adaptável a todos. Independentemente da fragilidade, idade, condição social ou número de descendentes, todos podem ser institucionalizados. Todos tem razões plenamente justificáveis para esta- rem num lar de idosos.
É evidente que os lares são necessários, sem eles muitos dos nossos idosos não teriam um fim de vida digno, morreriam solitários e sem cuidados. No entanto, a nossa sociedade não pode ficar presa apenas e só nesta resposta social, aliás porque, o Estado não pode nem deve substituir as comunidades e as famílias. Urge educar, os poucos jovens e famílias, para uma ética do cuidar. Uma ética que responsabilize e comprometa a cuidar: dos mais vulneráveis, do planeta, das famílias com idosos e dos idosos sem família. As pessoas idosas, que somos nós no amanhã, devem sentir que a velhice não é um estorvo, nem algo que se descarte, mas a última etapa da vida, onde a sabedoria e a espiritualidade se tocam ao permitirem que outros (familiares, instituições, vizinhos, voluntários…) cuidem das suas fragilidades. A necessidade do outro e a minha aproximação, fazem-me ser mais Eu.
2 – Ucrânia. A tensão entre a Rússia, Ucrânia e o resto do mundo é grande. O risco de um conflito armado nesta região, trará́ consequências graves para a Europa e mundo. Após uma Pandemia o que o mundo menos precisava é de uma guerra. Os homens continuam a não saber dialogar, colocando o poder e a força à frente da fraternidade e da paz. Quando todos desejávamos que o pós pandemia tornasse os corações mais sensíveis e voltados para o outro, tornou-os mais frios, distantes e egoístas.
3 – Ponto Cruz. A dinâmica da Quaresma, para este ano, andará à volta da Cruz. A Cruz como o ponto de partida e o ponto de chegada. A cruz é a identidade do Cristão. A Cruz de Cristo é o ponto central do mistério pascal. Aproveitemos este tempo para colocarmos uma Cruz no exterior da nossa casa, para depois na Páscoa, enfeitarmo-la com as flores da Ressurreição.
José Fernando, in Ecos de Penajóia, ano 55, nº 626, 28 de fevereiro de 2022.