
1 – Fita-cola. Ao longo do Tempo da Quaresma a nossa comunidade refletiu profundamente à volta do tema: Vamos todos com Alegria, subamos a Jerusalém. Uma subida que nos permitiu acompanhar a via dolorosa de Jesus e centrarmo-nos nas suas feridas e chagas. Fizemos um caminho de conversão, pensando e refletindo em cada uma das nossas chagas pessoais, sociais, familiares, culturais e paroquiais. A cada domingo o convite era de cura. A curarmos estas chagas ou feridas e transformá-las em buracos de luz, de esperança, cheias do perfume agradável do Amor por e a Jesus. A Semana Santa permitiu que a comunidade se unisse ainda mais fortemente à Cruz de Cristo e dirigisse uma prece ao bom Deus. Senhor prende-me com pregos fortes a Ti. Prende-me de tal modo como o teu Filho Jesus foi preso à Cruz, com esses cravos fortes e compridos. Na verdade, as nossas comunidades, ainda que passem por um acentuado envelhecimento com uma diminuição da presença de crianças e jovens, vivem com muito empenho, amor e fé as celebrações da Páscoa. No entanto, ao mais pequeno sinal de fragilidade e de dificuldade desistimos, esquecemo-nos do verdadeiro sentido da nossa existência, porque estamos colados a Jesus com fita-cola. Até somos homens e mulheres de Fé, participamos aos domingos na Eucaristia, somos leitores ou zeladores dos altares, mas escutamos uma crítica, uma palavra mais áspera do pároco ou um testemunho mau de um cristão e afastamo-nos. Simplesmente porque estamos colados com fita-cola à Palavra de Deus e a Jesus. Parece que tudo na nossa vida anda preso com adesivos, ao mais pequeno abanão, rompe os laços e desapega-se. Se isto é verdade para a vivência da nossa Fé, também o é para a forma como vivemos a família, o emprego, a escola ou as relações interpessoais com os amigos. Ligamo-nos aos outros e até nos comprometemos com a nossa missão e vocação, mas prendemo-nos apenas por adesivos, por fita-cola. Ao mais pequeno sinal de chuva, tempestade, dificuldade ou contrariedade despega-se tudo, derrubando o pouco que se construiu. Por isso, Senhor, mais uma vez te peço prende-me com pregos e não com fita-cola à Tua Palavra, ao teu Amor, à vida que em cada um gerastes.
2 – Cerejas. O início da Primavera trouxe uns raios fortes de sol, fazendo com que as nossas cerejeiras florissem intensamente. A nossa paisagem, em pouco dias, transformou-se e cobriu estas encostas de um manto branco de flores. Espetáculo único e que acontece todos os anos. Mas o clima na semana seguinte alterou-se, as temperaturas desceram, a chuva intensificou-se prejudicando a floração das árvores de fruto e pondo em risco um bom ano para a cereja. A cada ano, sentimos que as drásticas transformações climáticas interferem e prejudicam a produção do nosso fruto de eleição: a cereja.
3 – Paz. A faixa de Gaza está completamente destruída, sem estruturas essenciais à existência humana. Quanto mais sofrimento humano será necessário para mover o coração dos homens, de um lado e do outro, para o diálogo. Basta! Não ao ódio. Sejam homens, políticos ou não, construtores de Paz.
José Fernando, in Ecos de Penajóia, ano 58, nº 648, 10 de abril de 2024