per Mariam ad Iesum

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Editorial do Ecos de Penajóia – Novembro

Editorial - Ecos de Penajóia - novembro

1 – Nevoeiro. “Eu guardarei as minhas ovelhas para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas” (Ez 34,12)!  

O nevoeiro tem sido a nossa companhia nestas manhãs de outono. A neblina invade estas encostas sobranceiras ao Douro reduzindo a linha do horizonte. Surge quase sempre de mansinho. Primeiro damos conta dele no leito do rio formando uma nuvem espessa que rapidamente engole, nas suas entranhas, todos estes socalcos até tocar o cume da serra. Não fora o fato de conhecermos os caminhos e ruelas e facilmente nos perderíamos no meio desta fumaça. Caminhar com o nevoeiro é aventurar a colocar os pés no desconhecido e perder a noção do norte. É como se caminhássemos no meio das trevas, mas com a consciência de que a Luz existe e de que está um pouco mais acima de nós. Serve esta metáfora para compararmos o nevoeiro ao tempo em que vivemos. A Pandemia e tantas outras dificuldades que lhe estão associadas, e que assolam a nossa sociedade, são o grande nevoeiro. Não podemos projetar a longa distância nem deslumbramos o fim. A cada dia surgem novas regras, novos casos, maiores dificuldades em assumirmos os nossos empregos, tarefas ou missão. Não sabemos como será o final deste período letivo, se poderemos continuar com as sessões presenciais de catequese ou celebrar o Natal com uma família alargada. Não sabemos se nos podemos deslocar e até quando será este Estado de Emergência. Não sabemos nem vemos. O nevoeiro pandémico cria barreiras, limita-nos e leva a um cansaço global. 

Se no nevoeiro físico surge a tentação de abandonar, voltar para trás, parar até que surja algum luzeiro ou simplesmente avançar por conta e risco, no nevoeiro pandémico não estaremos longe desta triste realidade. Avançamos temerosos, sozinhos, tentando aguentar este barco sem pensar nos outros que seguem um pouco atrás de nós ou já estão uns passos mais adiante. Porventura porque o nevoeiro não permite que os vejamos. Tentar vencer o nevoeiro sozinhos, confiando apenas nas nossas capacidades e convicções pode tão só levar-nos à exaustão e, por isso, ao fracasso. Só venceremos este nevoeiro pandémico se juntarmos os nossos corações bem perto uns dos outros. Se, mesmo no meio do nevoeiro e sem vermos, estendermos a mão da partilha, disponibilidade, compromisso e solidariedade para aquele que segue no mesmo caminho. As trevas romper-se-ão se deixarmos que em nós a Luz brilhe e seja também um sinal para o outro. Por cima deste nevoeiro, há Luz, há Amor, há Esperança, virtudes fundamentais para sermos uma comunidade, uma Igreja, um país que não quer deixar ninguém para trás. Caminhemos juntos, bem perto do sofrimento do outro. 

 

2 – Natal. Algumas celebrações religiosas ou sociais são fundamentais para o equilíbrio económico de uma sociedade, sobretudo quando esta passa por crises. O Natal foi projetado, no contexto em que vivemos, pelos políticos e economistas como sendo uma boa oportunidade para salvar ou diminuir os efeitos de uma economia em decréscimo. Abundam os anúncios a descontos fantásticos e que incentivam a uma compra imediata a fim de retirar as pessoas das ruas nos finais de dezembro. Compreendemos esta necessidade económica e de como ela é importante para a sustentação de tantas outras famílias. No entanto, não matemos o verdadeiro sentido do Natal. Poderá ser um Natal mais reduzido, limitado nas pessoas ou com menos gastos, mas será o Natal do silêncio, muito parecido àquela noite fria e silenciosa de Belém onde, debaixo de uma estrela brilhante, um Deus cheio de Amor tocou e toca na Humanidade. 

 

3 – Azeite. Impressiona-me ver a tortura a que se sujeita a azeitona para, no limite do seu esmagamento, brotar um fio dourado de azeite que dá sabor aos alimentos e alumia tantas candeias. Vejo, neste ritual, tantos homens e mulheres, rostos sofridos e esquecidos, que se desfazem e imolam para fazer brilhar ao seu redor a Luz da Vida, Alegria e Amor. Não é isto que Jesus nos comunica com a sua Morte e Ressurreição? 

 

José Fernando, in Ecos de Penajóia, ano 53, n.º 614, 27 de novembro de 2020 

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