Em janeiro de 1947 era publicado o primeiro número do Jornal Ecos de Penajóia, com quatro páginas, sem imagem apenas texto a preto. A primeira página e última enfatizava a Provisão do Bispo de Lamego, D. Ernesto, sobre a construção da nova Igreja e a publicação do Ecos de Penajóia.
O Editorial ocupava grande parte da segunda página. O P. Ilídio Fernandes escreve ao sabor da sua pena e com uma tonalidade profética:
“Será desassombro ou ousadia, mas também em obediência a um plano concebido, após longas horas de reflexão, que nos abraçamos à publicação do “Ecos de Penajóia” que terá em vista traçar uma orientação definida em tudo o que se refere aos interesses vitais, deste rincão abençoado da Beira Douro.
Eis porque esta data ficará a impor-se como marco miliário, rasgando clareiras de esperança, nos destinos de seus moradores. (…)
Queremos dignificar o nome da nossa terra, alcandorá-lo ao alto conceito que merece, pelas tradições de fé e religiosidade acolhedora, pela fertilidade das suas encostas, pela belíssima paisagem de vale e serra que se disfruta aos seus minaretes”.
Com letras garrafais surge na terceira página “A Nossa Terra dia a dia”, descrevendo os acontecimentos vividos, as partidas e a chegadas dos filhos desta terra e a necrologia. Destaco apenas a primeira publicação desta secção:
“Festa de Santíssimo Salvador. Será este ano realizada com o máximo esplendor. Nela tomará parte uma afamada banda musical e as solenidades religiosas e os números artístico-musicais do sarau recreativo da tarde serão transmitidos ao público por poderosos alto-falantes. Pregará no dia e no tríduo preparatório o Revº Júlio Vaz, prestigioso Assistente Arquidiocesano da A. C. de Braga.
A seu tempo se dará conhecimento dum programa mais minucioso.
Para levar a cabo esta grandiosa festividade, está nomeada a seguinte comissão: Presidente: José Alberto Montenegro. Secretário, Carlos de Moura Guedes. Tesoureiro, Fernando Caetano de Almeida. Vogais, Ismael do Espírito Santo Trindade, Manuel Dias e Adérito Cardoso de Sousa.”
Ao reler este número inunda-me, por um lado, uma certa nostalgia de que o ano de 1947 não é muito diferente dos tempos que vivemos. Continuam os sonhos, os projetos, as dúvidas e dificuldades, gente que parte e outros que regressam… vidas, acontecimentos, homens e mulheres que cunharam a sua presença na memória das nossas vidas. Por outro, se as realidades parecem iguais, as narrativas de vida são muito diferentes. A tecnologia aproxima-nos mais rapidamente do fato ou da notícia, ainda que possa levar a uma isenção do compromisso comunitário e fraterno. O longe torna-se perto ainda que permaneça a distância física. E a Fé? Essa parece sofrer uma mutação, de uma presença apoteótica e em massa, surgem manifestações mais simples, reservadas, mas nem por isso menos vividas ou sentidas. Nestes tempos de Pandemia, foram muitas as orações, meditações, propostas e momentos de oração familiar, mais marcados pelo prazer e alegria de rezar do que pela obrigatoriedade.
E o Ecos continua. O Ecos quer dilatar os seus assinantes e leitores. O Ecos quer continuar a registar com grafismo de estilete a história e a fé deste povo. Por isso, hoje, na solenidade litúrgica da Ascensão do Senhor, dia dedicado aos meios de Comunicação Social, apresentamos à comunidade a nossa página de internet, com as mesmas palavras proferidas em 1947 “será desassombro ou ousadia, mas é em obediência a um plano concebido, após longas horas de reflexão, que apresentamos” a página www.paroquiadepenajoia.pt, só possível com a colaboração de muitos anónimos que estiveram na composição gráfica e correção dos textos.
Hoje, maio de 2020, é assim… escreve-se com menos recursos estilísticos, mas com cor, imagem e movimento. É a era tecnológica e digital. A página da internet, da Paróquia de Penajóia, pretende ser um espaço aberto à participação de todos. Gostaríamos que se tornasse um lugar de encontro, partilha, oração e reflexão. Desejamos que a notícia chegue o mais distante e rápido possível, sem retirarmos o seu registo impresso no “Ecos de Penajóia”. Que nestas páginas nos encontremos com a vida e a Fé de uma comunidade que procurar deixar agradáveis ecos nos corações de todos os que cruzam este Nobre Povo.
José Fernando, pároco
24 de maio de 2020.