O Lagar de Azeite de Penajóia é uma empresa familiar e que apenas labora no período de campanha da apanha da azeitona. Este é um trabalho delicado que exige uma presença contínua desde o recolher da azeitona, o encaminhamento para o lagar, a pesa, a esmaga até ao escorrer do precioso líquido dourado, base da nossa alimentação mediterrânea. O Jornal Ecos de Penajóia visitou o Lagar de Azeite de Penajóia, assistiu ao fabrico do azeite e esteve à conversa com o proprietário e família, por isso, partilhamos com os nossos leitores uma pequena entrevista realizada ao Sr. Manuel António Paulo.


Sr. Manuel faça-nos uma breve apresentação do Lagar de Azeite de Penajóia?
Como certamente algumas pessoas ainda se lembram, antigamente existiam na região muitos lagares, inclusive na freguesia eram mais do que apenas este. Os anos foram passando e por um ou outro fator as unidades foram fechando. Neste caso em particular é um lagar já com alguma história, temos na nossa posse licenças e documentos que atestam a sua existência 100% legalizado em 1923, mas há cartas e relatos bem anteriores. Quando o adquirimos, transformar azeitonas em azeite ainda era um processo bem demorado e para o qual eram necessários cerca de 8 a 10 homens em cada turno, entretanto fomos adquirindo novas máquinas, modernizando as instalações e fazendo investimentos para podermos ter sempre um produto final com a qualidade e sabor que por todos é reconhecida.
Como aparece ligado ao mundo do azeite e como integrou a família neste projeto?
Depois de passar de geração em geração na mesma família, chegou um momento em que fruto das situações profissionais das filhas do proprietário de então, acharam por bem passar o negócio. Penso que na altura foram ponderadas várias hipóteses, mas recordo-me de numa simples conversa à porta de minha casa com o Senhor António Moura Guedes termos fechado negócio dada a imensa disponibilidade que mostrou para nos ajudar a perceber o processo, uma vez que era uma área que não dominávamos de todo, então neste aspeto foi mesmo um privilégio ter alguém assim ao nosso lado para nos ajudar nos primeiros anos.
A integração da família acabou por acontecer naturalmente, com o crescimento dos filhos e uma maior consciência das responsabilidades foram-se apercebendo das necessidades do negócio, e como é algo com o qual todos se identificam a sua integração acabou por acontecer de forma muito natural e espontânea.
Qual é a importância da acidez para a qualidade do azeite?
A acidez no azeite é um pouco um mito, embora seja um fator laboratorial importante para aferir a qualidade ou não para o consumo humano, o famoso “picar na boca” que muitas pessoas associam à acidez está geralmente errado, uma vez que esse “picar” tem mais a ver com outros fatores do que propriamente com a acidez, aliás, não é por um azeite ter 0,2% de acidez que tem obrigatoriamente melhor qualidade que um de 0,8%, existem um conjunto de fatores, como as percentagens de variedades usadas num determinado lote, a qualidade das azeitonas, o armazenamento e transporte das mesmas, etc… que interferem no sabor final do azeite, mas a qualidade do azeite em Portugal, não pode ser posta em causa, Portugal é o maior produtor de azeite virgem e virgem extra no mercado mundial, em termos de qualidade estima-se que 95% do azeite produzido em Portugal continue a ser virgem e virgem extra, por isso as pessoas podem estar tranquilas que o azeite em Portugal ainda é de qualidade.
Artigo completo disponível in Ecos de Penajóia, Ano 53, nº 614, 26 de dezembro de 2020.